Com a crise econômica, após quase trinta anos de dedicação e serviços prestados, Thomas ficou desempregado. Com a indenização recebida, adquiriu e restaurou uma abandonada edificação, contratou empregados e, em apenas cinco anos de muita luta, tornou-se um empresário de sucesso de uma rede de supermercados.
Certo dia, quando um de seus caminhões fazia entregas de mercadorias, uma criança distraída atravessou a rua de bicicleta. Surpreendido pela iminência do acidente e tentando desviar, o motorista girou o volante ao máximo e deu uma freada brusca – isto lhe fez perder o controle do veículo, que começou a capotar.
Thomas era um homem de sorte. Seu falecido avô havia sido
dono de uma transportadora e lhe deixara, por herança, um caminhão baú de porte
médio. De fabricação canadense, o caminhão chamava a atenção de todos na
vizinhança, tanto pela beleza quanto pelo ruído do motor, que fazia estremecer
as vidraças. Na cabine, havia um conforto invejável; tinha bancos de couro
legítimo, ar condicionado, câmbio automático e computador de bordo.
Naquele fatídico dia, no interior do baú e enquanto o
caminhão capotava, as caixas de ovos se abriram, bem como os sacos de farinha,
as caixas de leite, as latas de achocolatado em pó, os tabletes de manteiga, os
pacotes de açúcar, os envelopes de fermento e os confeitos coloridos. Também
estava junto de tudo isso um cantil redondo que, sendo esquecido por um dos
entregadores, partiu-se ao meio. Com o movimento do caminhão, partes daqueles
ingredientes foram sendo misturados e depositados em uma das metades do cantil.
Em face da morte, a mente de Andrew, o motorista, foi
inundada por um turbilhão de pensamentos do seu passado. Cenas da infância e da
convivência com os pais, do casamento recém realizado e da amada esposa,
grávida, misturadas à uma adrenalina jamais sentida, agitaram-no por inteiro.
Respirando fundo, enquanto os vizinhos foram chamar os bombeiros, Andrew
conseguiu libertar-se do cinto de segurança e sair sozinho da cabine.
Aos poucos, um forte odor de material inflamável foi
percebido. Pressentindo o perigo, Andrew gritou a todos que se afastassem do
caminhão, pois havia vazamento de combustível. Instantes depois, uma moderada
explosão fez com que os vizinhos corressem definitivamente dali. Cerca de
quarenta minutos depois, os bombeiros chegaram em seu velho e valente caminhão
vermelho e, munidos de extintores, conseguiram extinguir as chamas.
Vinte anos depois do acidente, Andrew sorria e dizia que,
abrindo o baú do caminhão, para surpresa dele e dos bombeiros, estava lá um
lindo bolo de chocolate decorado. Obviamente, todos sabiam que ele estava
brincando, porque explosões nada criam, apenas destroem. Entretanto, essa
curiosa lenda acabou se espalhando. Quando questionado, Thomas dizia que a explosão
não poderia ter criado um bolo de chocolate, da mesma maneira que não havia
criado um caminhão novo. Aposentado de suas atividades, sempre repetia que as
histórias, bolos de chocolate e caminhões precisam ser planejados e construídos
por uma mente inteligente.
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